Monday, May 04, 2009

Uma idéia está se criando...

Em Monday 04 May 2009 13:10:34 você escreveu:
> Caramba Walther,
> que aula.
> Certamente precisarei de um tempo até pegar todos esses macetes, mas
> principalmente precisarei de pratica. Trabalho diretamente com ornitologia
> e comecei a gravar tem pouco tempo, aos pouquinhos vou editando e enviando
> minhas contribuições, que embora restritas, podem auxiliar os demais. Veja
> esta espécie que te enviei por exemplo, ainda não havia nenhuma gravação de
> sua vocalização nos arquivos do xeno-canto. Não é o máximo ? uma espécie
> tão comum, tão facilmente observável, mas que por algum motivo ninguém até
> hoje tinha depositado um arquivo com sua vocalização, lá!
>
> Você com toda essa bagagem da música, certamente tem muito a acrescentar ao
> wikiaves, já pensou em fazer um tutorial completo com todas essas dicas ?
> este poderia ser anexado ao site, tenho certeza que o Reinaldo não seria
> contrario a isso. Já procurei muito material em relação a isso e quase tudo
> está em inglês... Seria uma boa, né ?
>
> Mais uma vez muito obrigado,
> um abraço,
> Rafael
>
8< snip!

Caro Rafael,

fico feliz em ajudar, tomei a liberdade de postar o último e-mail no meu blog justamente buscando a divulgação de informações para o pessoal interessado.
Espero que você não se importe de ter incluído nossa conversa, mas eu queria manter o contexto. Quanto a criar um tutorial completo, isso leva tempo, acho que se eu postar em meu blog alguma coisa de vez em quando, depois de um
tempo daria para fazer uma compilação...
Vou trocar umas idéias com o Reinaldo e o pessoal no fórum do wikiaves e vamos ver o que sai desse "brainstorm". Quem sabe...
Se mais pessoas participarem da discussão fica mais interessante, pois mais idéias surgem. Inclusive estou pensando em separar o tema aves do meu blog, e criar um blog próprio em que mais pessoas poderão postar suas experiências.
Um blog comunitário, por assim dizer... Que tal?
Ainda preciso convidar o pessoal para conhecer meu blog, por isso vou postar esse e-mail também (enchimento de lingüiça, he he he) e, quem sabe, o pessoal começa a se interessar pelo assunto.
Se você quiser posso colocar você na "equipe" do blog já, assim se você tiver algum assunto interessante poderá postá-lo.
--
uma grrande abrraço!

Walther Grube
"Véio do rio"

Filtrando ruídos

Em Monday 04 May 2009 10:15:23 você escreveu:
> Grande Walther,
> mando anexo o arquivo gravado... Comecei a gravar tem pouco tempo e ainda
> não me habituei com todos os comandos do Audacity. Você poderia me mandar o
> processo que você utilizou para elimiar tais ruidos ? tipo um passo a passo
> ?! eu sei que é um abuso, mas eu acho que se eu voltar de uma viagem com 40
> vozes gravadas, vai ser mais fácil eu mesmo fazer isso do que mandar pra
> você, né ? hahahaha. muito obrigado mesmo pela ajuda.
> um abraço,
> Rafael
>
>
>
>
>
> To: ***************************
> Subject: Novo comentário adicionado!
> Date: Mon, 4 May 2009 01:37:44 -0300
> From: wikiaves@wikiaves.com.br
>
> Prezado Rafael Bessa,
>
> Um novo comentário foi adicionado por Walther Grube em uma de suas mídias,
> clique aqui para visualizar.
>
> Comentário:
> Rafael, quando precisar filtrar ruídos, pode mandar as gravações para mim
> (walther.grube@gmail.com). Com aplicação de algumas técnicas simples é
> perfeitamente possível eliminar esse ruído do vento.
>
> ---
> WikiAves - A Enciclopédia das Aves do Brasil
> _________________________________________________________________
> Deixe suas conversas mais divertidas. Baixe agora mesmo novos emoticons. É
> grátis! http://specials.br.msn.com/ilovemessenger/pacotes.aspx

Usando o arquivo que você enviou, vou descrever o processo passo-a-passo anexando os arquivos criados para você ter uma idéia geral:

-primeiro eu crio um espectrograma da gravação para ter uma idéia em que trechos eu encontro somente ruído. Nesse caso identifiquei visualmente que há ruídos de baixa freqüencia abaixo de 1kHz e um estalo ou click aos 24s.















-ao abrir o arquivo com o audacity verifiquei que o início da gravação tem uma
variação de offset durante o 1o segundo, isso terá que ser cortado já que não
contém nenhuma informação importante. É só selecionar o trecho e pressionar DEL.

























-escutando o som, o "click" na verdade se mostrou ser um "estrondo", nada de mais, é possível cortá-lo fora da mesma maneira. Basta dar um zoom nele selecionando com o mouse uma área pequena em torno dele e usando a opção "zoom para a seleção" (zoom to selection) do menu "visualizar" (view). O estalo agora aparece expandido e fica fácil selecionar só a parte que interessa remover. DEL nele!
























-Nesse ponto a gravação se tornou mais uniforme, não tem variações bruscas e é possível aumentar o volume ou "normalizar" o som. Basta selecionar tudo (CTRL-A) e usar o efeito (menu effect-normalize). Neste "efeito" você tem duas opções: "remove ant offset DC" que deverá ser ativado, e "normalize maximum aplitude to" que eu coloco em -3dB para evitar o que se chama de "clipping" (corte de picos de amplitude". Aplicado o "efeito" obtém-se












-Para eliminar os ruídos de baixa freqüencia utilizo um plug-in (tem que ser instalado) de equalizador de múltiplas bandas. No caso dessa gravação vou eliminar inicialmente ruídos abaixo de 420Hz que é a faixa aonde se encontra o ruído de vento. Note que eu crio uma "curva" com os controles. Isso é para suavizar o filtro evitando distorções. Ao aplicar a equalização o nível do som baixa bastante. Tem que escutar o som para ver se não se perdeu alguma coisa. Nesse ponto exportei o som para mp3 para você poder escutar o resultado até agora. (Suruí_03-05-2009_RBESSA (7)1.mp3). Já ficou bastante bom, mas há ruídos ainda. Para seguir aplica-se novamente o "normalize" -3dB.

























-Crio um novo espectrograma para identificar novamente ruídos que estão entre 22,5s e 29s. Esse trecho está realmente complicado, os ruído se sobrepõe ao som, mas vamos lá... Para reduzir os ruídos nesse trecho seleciono o trecho e aplico uma nova equalização na faixa abaixo de 1 kHz. Ficou bom... Normalizando e criando mais um espectrograma...









































-Agora vou eliminar ruídos eletrônicos. Todo equipamento eletrõnicos introduz um chiado de alta freqüencia que pode ser eliminado com o filtro "noise removal". Ele é excelente para isso. Usando o espectrograma verifico que tem ruídos isolados em torno dos 34s. O chiado aparece como uma névoa espalhada pelo espectro. Para aplicar o "noise removal" primeiro vocẽ seleciona uma faixa do som onde está o ruído a ser eliminado e escuta esse trecho para conferir se é só ruído mesmo (apesar do espectrograma garantir isso). Selecione o "noise removal" e clique no botão "get noise profile", selecione tudo (CTRL-A) e aplique "noise removal" novamente, só que agora selecione o botão OK e o chiado será eliminado.













-Por fim é só "normalizar" o som novamente e exportar e criar o espectrograma final

A descrição de como criar o espectrograma está no meu blog (http://educacaoambiental-walther.blogspot.com/).

Nesse exemplo, não filtrei todos os ruídos, ainda sobrou muita coisa a tirar, mas já dá para ter uma idéia de como eu faço esses malabarismos auditivos...

Ainda acha que é mais fácil você mesmo fazer isso? he he he
Eu me divirto fazendo essas coisas. Eu fui técnico de som de uma banda de Rock por bastante tempo e gosto de lidar com esse tipo de coisas. Filtrar gravações de aves é até divertido, e muitas vêzes um desafio, quando o ruído está na mesma faixa de freqüencia do som...

Eu uso Linux e minha versão do Audacity é em inglês, pode ser que você tenha dificuldades em entender alguns dos passos, qualquer coisa é só perguntar!

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uma grrande abrraço!

Walther Grube
"Véio do rio"

Sunday, May 03, 2009

Um exemplo a seguir...

Publicado no Ambiente Brasil em 27/04/2009.

Uma mulher, Silvana Cutello, dá um exemplo de preocupação com aves feridas em Brasília. Mesmo nas cidades é possível realizar atos em prol da natureza. Vale a pena conferir.

Segundo o artigo, ela desde os 12 anos (idade da minha filha, viu filhota?) cuidava de aves:
"Morava em uma chácara. Sempre que meus seus pais encontravam algum passarinho machucado na rua, davam-me para cuidar." (Silvana Cutello)
Ainda mais, ela própria custeia o tratamento e recebendo ajuda, na forma de alimentos para aves, por parte de uma empresa especializada. Outro exemplo, empresas deveriam ajudar mais projetos assim, cumprindo não só sua função social, mas também ambiental...


Parabéns Silvana!

Friday, April 24, 2009

Projeto Nhandara Guaricana




Aqui está um mapa que criei usando dados de diversas fontes. Este mapa mostra a delimitação da área que está para se tornar uma RPPN e a região do entorno com hipsografia, rios, curvas de nível e trilhas registradas por meio de GPS.

fontes de dados:
DEM (modelo digital de elevação) - USGS
polígono de delimitação da área - gentilmente cedido pela SPVS

Softwares utilizados:
Google Earth
Trackmaker
SAGA
Viking GPS

Sunday, April 12, 2009

Espectrogramas de pererecas...

Resolvi postar esse espectrograma, pois é muito interessante! Não sei a
espécie, nem o nome popular.

Baixe o audio aqui (WAV 2.56Mb)

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uma grrande abrraço!

Walther Grube
"Véio do rio"

Identificação confirmada por espectrograma...

Essa veio para confirmar a técnica... O Paulo Guerra tinha publicado uma vocalização a identificar no site WikiAves. Eu achei bastante familiar o som, mas não conseguia identificar auditivamente. Baixei o áudio para ver se conseguia fazer a identificação por espectrogramas, filtrei ruídos, criei o espectrograma e iniciei a cansativa tarefa de comparar as imagens.

Mas isso é demorado e complicado. Acredito que possa ser feito com um software que encontrei na internet, mas isso é outra história...

Por fim, foram dadas sugestões e finalmente a espécie foi determinada: saí-canário (Thlypopsis sordida - família Thraupidae). Foi legal ter participado de alguma forma nesse processo (apenas enviei o som filtrado e o espectrograma para ele), pois pude confirmar depois a identificação. Isso aconteceu ao renomear o arquivo de imagem do espectrograma e, como eu já tinha um espectrograma dessa espécie, pude fazer a comparação na hora com resultado positivo e sem dúvidas! Os espectrogramas estão aí para confirmar... Apesar da segunda imagem não ser muito clara, essa precisa ser tratada ainda.


Alguns links:


saí-canário no site WikiAves



a gravação em si







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uma grrande abrraço!

Walther Grube

"Véio do rio"

Primeira identificação por espectrograma!


FUN-CIONA! FUN-CIONA! FUN-CIONA! Que maravilha! Consegui identificar uma vocalização por espectrograma! Dá trabalho fazer a comparação manualmente, ainda estou pesquisando sobre a comparação via algoritmos, mas foi possível utilizar essa técnica para identificar uma das "trocentas" vocalizações que gravei. É de um saci (Tapera Naevia) da família Cuculidae.
Antes de ter a ferramenta para criar os espectrogramas, eu estava quase descartando as gravações. De que me adiantariam gigas de vocalizações se não poderia identificá-las? Mas em questão de uns quatro dias filtrando ruídos, criando espectrogramas e baixando vocalizações dos sites Aves do Brasil e WikiAves, consegui realizar a primeira identificação positiva e sem dúvidas!
Agora só faltam as outras quatro milhões setecentos e oitenta e três mil quatrocentos e vinte e seis e meia... Brincadeirinha! Mas tem um monte mesmo para identificar...
À esquerda está o espectrograma da vocalização da ave da foto acima.

Baixe o áudio aqui.

Amanhecer em Curitiba... Sabiás, bem-te-vis, beija-flor...

Está amanhecendo, são 6:25 da manhã e estou espantado com o festival que as
aves estão fazendo aqui...
Contei pelo menos uma dúzia de Sabiás, tem um beija-flor fazendo um "escarcéu"
e os bem-te-vis estão a toda também! Como é bom esse momento.
Até gravei a cantoria, é incrível.

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uma grrande abrraço!

Walther Grube
"Véio do rio"

Friday, April 10, 2009

Como crio os espectrogramas...

Aqui vai uma dica para aqueles interessados em cantos de aves e som em geral.
Criar espectrogramas não é difícil, além de ser uma ferramenta incrível para filtrar ruídos em arquivos de áudio. Essa dica é para usuários de Linux.
O software necessário para criar espectrogramas é o sox. Um utilitário de linha de comando que tem inúmeros recursos para manipulação de áudio.
Antes de explicar como criar espectrogramas, quero dizer que uso-os para identificar ruídos de fundo, ruídos causados pelo equipamento de gravação e interferências em geral. Para isso é necessário entender o que são espectrogramas.
Espectrogramas são gráficos que por meio de côres identificam a intensidade e freqüencia de sons ao longo do tempo.


No exemplo acima, o gráfico mostra na vertical a freqüencia do som em kHz (kilohertz ou milhares de ciclos por segundo) e na horizontal o tempo em segundos. A barra vertical à direita é a referência de côres para a intensidade do som em decibéis. Esse espectrograma mostra que o canto dessa espécie é um trinado curto que se repete a cada meio segundo aproximadamente. Esse som é composto, tem várias harmônicas, o que o gráfico mostra como curvas sobrepostas na vertical em frequências diferentes. Isso fica mais claro com o próximo exemplo:

Chamado do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)

No primeiro exemplo, pode-se ver que há muito ruído em baixas freqüências (a parte amarela embaixo) que são basicamente, ruídos que vêm do ambiente, do equipamento de gravação, entre outras fontes. Filtrando esses ruídos obtém-se o seguinte espectrograma:

Canto do beija-flor-rubi com redução de ruídos

Nesse espectrograma ainda há ruídos de baixa freqüência, porém em nível muito menor, o que é indicado pela cor azul-esverdeada. Não é necessário remover todos os ruídos, muitas vêzes há componentes de baixa freqüência do som que queremos destacar, portanto é uma questão de analisar o espectrograma, aplicar a redução de ruídos e por tentativa e erro descobrir aonde se localiza o som desejado e aonde estão os ruídos.
A maneira de reduzir os ruído explicarei em outra postagem, aqui quero descrever como criar espectrogramas com o sox.
Supondo que você tenha um arquivo "som.mp3" e você quer criar um espectrograma dele, basta, em uma janela de console do Linux digitar o seguinte comando:

$ sox -c 1 som.mpr -n spectrogram

Será criado um arquivo "spectrogram.png", é fácil assim!
Existem opções para esse comando que permitem alterar o aspecto do gráfico, isso pode ser verificado no manual do software.
Para facilitar o procedimento de criação de espectrogramas e manter um padrão de aparência do gráfico criei um pequeno script:

#!/bin/bash
sox "$1" -b 24 temp.wav rate -v -L -b 90 48k
sox temp.wav mono.ogg remix -
sox -c 1 mono.ogg -n spectrogram -x 15 -y 2 -z 70 -w Hamming -s -p 2
mv spectrogram.png "$1".png
rm temp.wav mono.ogg

Com ele eu crio espectrogramas na hora que preciso à medida que vou manipulando o áudio com filtros de softwares como o Audacity. No próximo "post" vou descrever como faço isso...

Até lá!

referências:

sox
sox.sourceforge.net

Audacity
audacity.sourceforge.net

Thursday, April 09, 2009

O Tangará-dançarino e sua dança.

O tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata) é uma ave da família Pipridae, o macho é de um colorido azul vistoso com asas pretas e com um topete vermelho vivo. Quando jovem ele é verde como a fêmea. Esta, porém, não tem topete vermelho.

Jovem macho que se chocou contra a janela da minha casa

É muito comum na mata atlântica e sempre é um grande prazer encontrá-lo na mata por sua beleza. Em muitas ocasiões eu pude me aproximar bastante de tangarás, e o momento mais interessante de encontrá-los é durante a dança de acasalamento. Eu nunca tinha presenciado esse momento até um dia quando estava fazendo uma trilha na área do Projeto Nhandara Guaricana. Em determinado momento, escutei um tangará cantando e fui observar de perto. Para minha alegria encontrei seis tangarás machos empoleirados em frente a uma fêmea e havia mais dois machos imaturos observando de longe. Passei a gravar o canto (espectrograma abaixo), pois não consegui um ângulo bom para filmar.

TangArás durante a côrte - à esquerda, a fêmea toda verde.
(foto gentilmente cedida por João Quental)
(site WikiAves)

Mas foi mágico! Enquanto um macho se apresentava, executando sua dança e cantando, os outros acompanhavam com um trinado esquisito. Ao final de sua apresentação o macho dava um trinado agudo e muito forte e se posicionava no "fim-da-fila" para que outro macho iniciasse a sua dança. E enquanto isso a fêmea só ficava olhando com aquela cara de "eu sou a tal". Foi realmenete um momento especial, e que se repetiu mais vezes para a minha alegria. Desejo a todos que amam a natureza um encontro desses!

Um grande abraço a todos!

Wednesday, April 08, 2009

Espectrogramas de cantos de aves...

Comecei a preparar um banco de dados com cantos de aves e respectivos espectrogramas para identificação de espécies pelo canto. Isso já é utilizado há muitos anos, mas só por pesquisadores com acesso a equipamentos especiais. Hoje em dia com computadores dá para fazer o mesmo e de forma simples. Aqui vão alguns exemplos de espectrogramas que obtive utilizando programas para Linux:
Beija-flor-rubi (Clytolaema rubricauda)Beija-flor-rubi (com apllicação de redução de ruídos)

Anu-preto
Pintassilgo

Site Aves do Brasil

Fazendo um breve intervalo entre relatórios de expedições, vou aqui colocar uma homenagem ao site AVES DO BRASIL (www.aves.brasil.nom.br) que, além de apresentar um belo design, milhares de fotos lindas e sons de aves, também é uma "ferramenta" para identificar aves.
Graças a esse site que minha paixão por aves se cristalizou. Eu sempre admirei a beleza do canto e das cores e formas das aves, mas nunca me empenhei em estudá-las mais detalhadamente até iniciar uma pesquisa sobre recuperação de áreas degradadas com o auxílio de ... aves! Elas disseminam sementes de uma maneira incrível, seguindo cursos de rios, relevo, enfim, da forma como tem de ser. Não é como o ser humano dita, mas de acordo com o comportamento delas.
Vaaaai daí que, "googleando" por assuntos relacionados a isso, topei com esse maravilhoso site e não teve jeito, me cadastrei, publiquei algumas modestas fotos e comecei a aprender mais e mais sobre aves.
Acabei adquirindo um livro (muito bom) do J. Dalgas Frisch (Aves Brasileiras e Plantas que as atraem) que agora me acompanha a todos os lugares. Eu já conhecia o trabalho desse ornitólogo, pois quando era um "piá", ganhei um disco de vinil compacto com o canto do uirapuru e de sabiás. Esse disco me acompanhou por muitos anos até que um dia assaltaram minha casa... Mesmo assim nunca esqueci dele e do canto dessas duas aves incriveis! Por sinal, o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) é considerado a ave símbolo do Brasil, sabiam? Por obra do Dalgas Frisch! Pois é, essa maravilhosa ave, abundante em todo o território nacional foi eleita símbolo do Brasil. E com todo o mérito, seu canto é simplesmente uma maravilha, muito melodioso, e, conforme a região, com variações muito grandes.
Também gosto muito do trabalho de outro ornitólogo bastante conhecido, o Helmut Sick. Porém até o momento não consegui adquirir livros dele. Paciência... Também não é tão necessário assim, pois tem o site para identificar as espécies.
Vale a pena conferir pois tem fotos realmente incríveis. Acho muito difícil alguém visitar esse site e não começar a prestar mais atenção em aves, mesmo nas cidades. Agora mesmo enquanto estou escrevendo tem sabiás cantando no quintal, está escurecendo e logo deve aparecer uma coruja, vou tentar gravar a vocalização dela... E isso na cidade! Espero que o trânsito dê uma folga para não atrapalhar na gravação.

Um abraço a todos!

Monday, February 23, 2009

Expedições com o GARI (Grupo Ambientalista do Rio Iguaçu)


Em 2008 participei de duas expedições com o GARI na região de Porto Amazonas e São Mateus do Sul.
A primeira foi acompanhando o Ribeirão Bonito, curso de água que atravessa a pacata cidade de Porto Amazonas. Esse rio desagua no Iguaçu a poucas centenas de metros da sede do GARI e foi até a foz dele o primeiro trecho da expedição. Nesse trajeto encontrei diversas espécies vegetais interessantes principalmente das famílias Melastomataceae, Lauraceae, Cactaceae, Bromeliaceae entre outras.
Os alunos do ensino público que nos acompanhavam iam me perguntando os nomes de tudo que viam, e na medida do possível eu tentava dar o máximo de informações possíveis. Fiquei muito feliz de encontrar até alguns exemplares de canela-sassafrás (Lauraceae), ainda pequenas arvoretas, mas importantes presenças na mata ciliar. Também notei a presença de muitas espécies de fungos diferentes. Seria interessante fazer um levantamento desses seres tão curiosos e importantes no ecossistema.
Na foz do Ribeirão Bonito foi feita uma análise da água comprovando a contaminação por efluentes domésticos, além disso havia lixo no leito do rio e, para meu espanto, gente pescando no rio Iguaçu.
Nesse p
onto o rio Iguaçu tem altas concentrações de coliformes e outros contaminantes, eu não teria coragem de comer um peixe capturado ali...
É realmente triste ver o descaso com esse rio tão importante na nossa história.

Em seguida, tomamos o rumo rio acima passando pelo parque da cidade aonde há uma pequena praça com um espelho d'água. Pouco depois adentrávamos por uma trilha e... que tristeza! Já no início um monte de lixo, certamente oriundo das casas ao lado da mata à beira do Ribeirão Bonito. Que tal uma campanha de esclarecimento para os moradores dali para evitar esse problema? As pessoas precisam ser conscientizadas de que preservando o ambiente elas melhoram sua qualidade de vida.
Nesse ponto da expedição eu registrei diversas espécies vegetais importantes na mata ciliar, portanto demonstrando boa qualidade da mesma. Vários Jerivás (Palmae) e outras frutíferas, indicam a presença de aves e animais que disseminam sementes. Encontramos também tocas de tatus recém cavadas. Após algumas centenas de metros saímos da mata e beiramos a mesma seguindo por áreas de plantio, aonde constatamos que pequenas drenagens são ignoradas ou até mesmo aterradas para aumentar a área de plantio. Em muitos casos já havia sinais de erosão, um problema sério que facilmente seria evitado mantendo-se a mata ciliar, mas que depois de instalado não tem reparação fácil. Quando é que esse pessoal vai aprender?
Seguindo nosso caminho tive o grande prazer de reencontrar plantas carnívoras típicas da região dos campos gerais (Drosera sp.). Havia muitos anos que eu não as encontrava, pois a agricultura intensiva diminuiu muito o espaço para várias espécies dessa região. Sendo o solo dessa região pobre em micro-nutrientes, essas plantas obtém essas substâncias, tais como fosfatos e potássio, capturando insetos em suas folhas pegajosas. O uso de adubos químicos causa mudanças no pH do solo o que leva essas plantas ao desaparecimento.
Enquanto eu fotografava as Droseras o pessoal avistou um veado. Já havíamos registrado pegadas de veado um pouco antes.
Paramos uns instantes para fazer um rápido lanche e prosseguimos até chegarmos a uma pedreira às margens do Ribeirão Bonito. Nessa pedreira um senhor (cujo nome esqueci...) nos contou sobre a manufatura de rebolos gigantescos de 2000 a 3000 kg feitos à mão (!!!) a partir de blocos de arenito extraídos por meio de cunhas e fogo (?). Realmente impressionante! Em vinte dias, a partir de um bloco bruto, fica pronto um rebolo de 2 a 3 toneladas perfeitamente circular, e tudo à mão, na base de marreta e talhadeiras.
Esses rebolos são utilizados na indústria de celulose para moer a madeira...
Em seguida cruzamos o rio, aproveitando para fazer outra análise de água, com participação ativa dos alunos. E ao chegarmos do outro lado encontramos plantações de ameixas pelas quais caminhamos até encontrarmos uma bica com água cristalina. Após uma rápida e refrescante parada, seguimos nosso caminho até chegarmos à pousada onde passamos a noite.
Com direito a farto café da manhã depois de uma boa noite de sono, iniciamos nossa caminhada bem dispostos e animados.
Nesse segundo dia encontramos diversas espécies vegetais interessantes, solanáceas, branquinho, aroeiras e muitas outras importantes espécies para a mata ciliar. Também pude notar os problemas que esse belo rio tem, principalmente por causa da agricultura. Apesar de ter uma mata ciliar razoavelmente preservada, o rio sofre, quero crer, principalmente com a lixiviação do solo o que causa o assoreamento do rio, a adubação química e o uso de agrotóxicos. Em vários pontos nas áreas de plantio foram feitas valetas de drenagem que obviamente acabam por desaguar no rio levando solo erodido e produtos químicos. Somente nesse segundo dia que registrei a presença de libélulas, importantes bioindicadores de qualidade de água. Se não há presas não há esses predadores, portanto, pela pequena quantidade vista, alguma coisa está errada com esse rio. Deveria haver peixes também, porém não vimos nenhum, apesar da água cristalina.
Acompanhando um trecho de um afluente do Ribeirão Bonito, o Arroio do Palmital, chegamos a uma área desmatada utilizada como pasto, pela qual seguimos em direção ao ponto de encontro com o micro-ônibus que mais tarde nos levaria até a sede do Gari. Nesse trecho encontramos muitos vestígios de animais, pegadas principalmente, mas também fezes. Pude registrar pegadas de veado, tatus, e até pegadas de gato-do-mato ou jaguatirica.
De volta à sede do GARI, fiquei emocionado com a pronta resposta ao nosso trabalho de educação ambiental, pois recebi uma homenagem de uma aluna, em forma de uma poesia para o "Véio do Rio", apelido que ganhei dos alunos. Nessa poesia (não me lembro bem as palavras) a aluna descreveu como aprendeu a olhar de outra maneira para coisas que já conhecia graças ao "Véio do Rio". Gente! Querem coisa melhor do que ver uma semente brotar instantaneamente???

Obrigado ao pessoal do GARI pelo convite para essa expedição e aos alunos que, além do apelido, me deram uma grande satisfação ao participarem com seu interesse e curiosidade.

"Véio do Rio"