Monday, February 23, 2009

Expedições com o GARI (Grupo Ambientalista do Rio Iguaçu)


Em 2008 participei de duas expedições com o GARI na região de Porto Amazonas e São Mateus do Sul.
A primeira foi acompanhando o Ribeirão Bonito, curso de água que atravessa a pacata cidade de Porto Amazonas. Esse rio desagua no Iguaçu a poucas centenas de metros da sede do GARI e foi até a foz dele o primeiro trecho da expedição. Nesse trajeto encontrei diversas espécies vegetais interessantes principalmente das famílias Melastomataceae, Lauraceae, Cactaceae, Bromeliaceae entre outras.
Os alunos do ensino público que nos acompanhavam iam me perguntando os nomes de tudo que viam, e na medida do possível eu tentava dar o máximo de informações possíveis. Fiquei muito feliz de encontrar até alguns exemplares de canela-sassafrás (Lauraceae), ainda pequenas arvoretas, mas importantes presenças na mata ciliar. Também notei a presença de muitas espécies de fungos diferentes. Seria interessante fazer um levantamento desses seres tão curiosos e importantes no ecossistema.
Na foz do Ribeirão Bonito foi feita uma análise da água comprovando a contaminação por efluentes domésticos, além disso havia lixo no leito do rio e, para meu espanto, gente pescando no rio Iguaçu.
Nesse p
onto o rio Iguaçu tem altas concentrações de coliformes e outros contaminantes, eu não teria coragem de comer um peixe capturado ali...
É realmente triste ver o descaso com esse rio tão importante na nossa história.

Em seguida, tomamos o rumo rio acima passando pelo parque da cidade aonde há uma pequena praça com um espelho d'água. Pouco depois adentrávamos por uma trilha e... que tristeza! Já no início um monte de lixo, certamente oriundo das casas ao lado da mata à beira do Ribeirão Bonito. Que tal uma campanha de esclarecimento para os moradores dali para evitar esse problema? As pessoas precisam ser conscientizadas de que preservando o ambiente elas melhoram sua qualidade de vida.
Nesse ponto da expedição eu registrei diversas espécies vegetais importantes na mata ciliar, portanto demonstrando boa qualidade da mesma. Vários Jerivás (Palmae) e outras frutíferas, indicam a presença de aves e animais que disseminam sementes. Encontramos também tocas de tatus recém cavadas. Após algumas centenas de metros saímos da mata e beiramos a mesma seguindo por áreas de plantio, aonde constatamos que pequenas drenagens são ignoradas ou até mesmo aterradas para aumentar a área de plantio. Em muitos casos já havia sinais de erosão, um problema sério que facilmente seria evitado mantendo-se a mata ciliar, mas que depois de instalado não tem reparação fácil. Quando é que esse pessoal vai aprender?
Seguindo nosso caminho tive o grande prazer de reencontrar plantas carnívoras típicas da região dos campos gerais (Drosera sp.). Havia muitos anos que eu não as encontrava, pois a agricultura intensiva diminuiu muito o espaço para várias espécies dessa região. Sendo o solo dessa região pobre em micro-nutrientes, essas plantas obtém essas substâncias, tais como fosfatos e potássio, capturando insetos em suas folhas pegajosas. O uso de adubos químicos causa mudanças no pH do solo o que leva essas plantas ao desaparecimento.
Enquanto eu fotografava as Droseras o pessoal avistou um veado. Já havíamos registrado pegadas de veado um pouco antes.
Paramos uns instantes para fazer um rápido lanche e prosseguimos até chegarmos a uma pedreira às margens do Ribeirão Bonito. Nessa pedreira um senhor (cujo nome esqueci...) nos contou sobre a manufatura de rebolos gigantescos de 2000 a 3000 kg feitos à mão (!!!) a partir de blocos de arenito extraídos por meio de cunhas e fogo (?). Realmente impressionante! Em vinte dias, a partir de um bloco bruto, fica pronto um rebolo de 2 a 3 toneladas perfeitamente circular, e tudo à mão, na base de marreta e talhadeiras.
Esses rebolos são utilizados na indústria de celulose para moer a madeira...
Em seguida cruzamos o rio, aproveitando para fazer outra análise de água, com participação ativa dos alunos. E ao chegarmos do outro lado encontramos plantações de ameixas pelas quais caminhamos até encontrarmos uma bica com água cristalina. Após uma rápida e refrescante parada, seguimos nosso caminho até chegarmos à pousada onde passamos a noite.
Com direito a farto café da manhã depois de uma boa noite de sono, iniciamos nossa caminhada bem dispostos e animados.
Nesse segundo dia encontramos diversas espécies vegetais interessantes, solanáceas, branquinho, aroeiras e muitas outras importantes espécies para a mata ciliar. Também pude notar os problemas que esse belo rio tem, principalmente por causa da agricultura. Apesar de ter uma mata ciliar razoavelmente preservada, o rio sofre, quero crer, principalmente com a lixiviação do solo o que causa o assoreamento do rio, a adubação química e o uso de agrotóxicos. Em vários pontos nas áreas de plantio foram feitas valetas de drenagem que obviamente acabam por desaguar no rio levando solo erodido e produtos químicos. Somente nesse segundo dia que registrei a presença de libélulas, importantes bioindicadores de qualidade de água. Se não há presas não há esses predadores, portanto, pela pequena quantidade vista, alguma coisa está errada com esse rio. Deveria haver peixes também, porém não vimos nenhum, apesar da água cristalina.
Acompanhando um trecho de um afluente do Ribeirão Bonito, o Arroio do Palmital, chegamos a uma área desmatada utilizada como pasto, pela qual seguimos em direção ao ponto de encontro com o micro-ônibus que mais tarde nos levaria até a sede do Gari. Nesse trecho encontramos muitos vestígios de animais, pegadas principalmente, mas também fezes. Pude registrar pegadas de veado, tatus, e até pegadas de gato-do-mato ou jaguatirica.
De volta à sede do GARI, fiquei emocionado com a pronta resposta ao nosso trabalho de educação ambiental, pois recebi uma homenagem de uma aluna, em forma de uma poesia para o "Véio do Rio", apelido que ganhei dos alunos. Nessa poesia (não me lembro bem as palavras) a aluna descreveu como aprendeu a olhar de outra maneira para coisas que já conhecia graças ao "Véio do Rio". Gente! Querem coisa melhor do que ver uma semente brotar instantaneamente???

Obrigado ao pessoal do GARI pelo convite para essa expedição e aos alunos que, além do apelido, me deram uma grande satisfação ao participarem com seu interesse e curiosidade.

"Véio do Rio"